sábado, 6 de agosto de 2011

Um pouco mais da Catalunha

Há muito a se explorar nessa região: praias, campos, monumentos antigos de era medieval, locais religiosos e relacionados à arte, como casas e museus de grandes artistas catalães. É uma experiência muito agradável pegar a estrada e conhecer um pouco de alguns desses locais e que não são muito distantes de Barcelona, permitindo viagens de ida e volta no mesmo dia, ou viagens mais longas com pernoite de alguns dias, caso seja o interesse e disponibilidade.
No nosso caso fizemos duas pequenas viagens nessa rica região, com saída e volta no mesmo dia, para destinos muito diferentes.



MONTSERRAT
Fachada da Basílica
Nosso primeiro destino foi à região onde encontra-se o Convento de Montserrat, local considerado o mais sagrado da Catalunha. É o santuário de Nossa Senhora de Montserrat, a Virgem Negra (La Moreneta), padroeira da região. Há histórias de que a estátua de madeira foi feita por São Lucas e levada ao local por São Pedro no ano 50. No entanto, estudos indicam que a estátua foi esculpida no século 12. É um local de peregrinação e adoração e os fiéis fazem fila para chegar perto da Virgem que fica atrás do altar e protegida por um vidro e podem tocar somente em sua auréola de madeira.

A região é belíssima cercada por montanhas de formas pontudas. O pico do “monte cerrado” possui 1236 metros de altura e pode-se chegar lá por bonde (funicular) ou caminhando por trilhas. Como não somos super atletas tomamos o funicular inaugurado nos anos 20. Ao iniciar a subida até o topo parece que deixamos a planície nos anos 20 e, ao chegar no final do trajeto, desembarcamos no século 18.  Ao chegar nesse mágico local desde os primeiros passos sentimos uma sensação de leveza, purificação,  presença divina.

O principal ponto de visitação é, sem dúvida, a Basílica de Montserrat, onde está a estátua da padroeira. Sua fachada e seu interior são belíssimos e ricos, com adornos e pinturas de artistas catalães.
A Basílica faz parte do conjunto de edifícios do Convento de Montserrat e o local conta com cafés, museus, lojas e até hotel.
Convento de Montserrat no meio à bela paisagem
A sensação de caminhar nesse local, do alto do Monte, é muito agradável, com a vista para uma vegetação exclusiva das montanhas imponentes e donas do local, e o silêncio que pode-se perceber mesmo com muitos turistas ao redor. Os picos que circundam o local parecem entidades divinas abençoando este magnífico local. Templos e mosteiros que ficam isolados no alto das montanhas fazem com  que o sentimento do divino seja mais real, presente, sublime, presente em cada célula do nosso corpo emanando amor supremo para todos seres vivos da terra.

Pudemos apreciar uma pequena feira de produtos alimentícios da região de produtores locais como queijos, embutidos, mel, etc. Há um restaurante com uma vista bem privilegiada para as montanhas com ótimas opções de comidas típicas.  


Montserrat é muito próximo de Barcelona, cerca de 40 minutos de carro em direção ao centro do país. É possível e muito fácil, também, chegar ao local de trem que parte de Barcelona e chega até a estação do funicular que leva ao Monte.  


SALVADOR DALÍ
 O nosso segundo destino nas estradas da Catalunha tinha por objetivo conhecer alguns dos locais mais importantes da vida e obra desse grande artista catalão. Para isso nos dirigimos, primeiramente para Figueres,  seu local de nascimento  e onde encontra-se o Teatro-Museu Dalí.
 A cidade de Figueres localiza-se ao norte do país e é bem próxima do sul da França. A viagem de Barcelona para Figueres levou pouco mais de duas horas de carro em excelente rodovia principal.  Ao chegar na pequena cidade tem-se a nítida sensação, claro, de que tudo gira em torno de seu mais ilustre filho. São bares, restaurantes, e muitas lojas para atender aos milhares de turistas que vem a cidade por causa do artista e sua obra. Chamou-me a atenção enquanto estava na fila para a entrada no museu uma lanchonete que tinha por nome “Dalicatessen”.
 O Teatro-Museu Dalí é imponente com sua fachada na cor terracota e os ornamentos de ovos gigantes no topo da construção. O museu foi fundado pelo próprio Dalí em 1974 e é o local onde o artista está enterrado.  Ao entrar no museu sentimos a presença do artista em cada detalhe. Sua loucura paranóica faz com que todos entremos dentro da mente do artista, nos levando de sala em sala às suas interpretações do inconsciente humano e seus desejos reprimidos. O sentimento é como se tomássemos uma pílula de LSD e viajássemos com o mestre em seu mundo de ilusões mentais materializadas em uma infinidade de texturas visuais que nos levam cada vez mais  a admirar quanto o ser humano é capaz de desenvolver seus poderes divinos na vida terrena.
Teatro- Museu Dalí

  Como já previsto, durante a alta temporada o tempo de espera para a entrada no museu é longo. No nosso caso ficamos mais de 1 hora na fila e durante este tempo deu tempo de comer uma deliciosa baguete de atum com suco de laranja. A fila era uma torre de babel devido ao leque de línguas que ouvimos ao nosso redor. Algo que nos chamou a atenção é o comportamento de todos na fila, sem reclamação, aguardando sua vez, pois tem-se a certeza que não há espertos na tentativa de furar filas e nem aqueles vendedores ambulantes tentando empurrar bugigangas para os turistas.

Interior do Museu
O ingresso de 12 euros para a entrada do Museu ainda dá direito a um outro museu, também com obras do artista: o Dalí Joies.  Aqui pode-se ver a exibição permanente de 39 jóias originais, além dos desenhos e pinturas para o design de cada peça, feitas pelo artista entre 1941 e 1970.  O local é todo escuro com pouca iluminação somente com destaque para as peças. 
Cada peça é uma obra de arte por si só, mas que se completa pelo esboço, pintura, explicações do artista que tinha por objetivo mesmo a expressão da arte ao mesmo tempo em que comunicava suas ideias surrealistas.
Lábios de rubis  com dentes de pérolas (1949)
Saindo de Figueres nos dirigimos a um outro local muito importante relacionado a Dalí: a litorânea Cadaqués e mais precisamente a Casa-Museu Salvador Dalí, em Port Lligat. A estrada cheia de curvas é como uma viagem no tempo devido suas extreitas estradas cheia de curvas, como que nos preparasse para entrar em uma outra dimensão. Não é à toa que Dali escolheu este local como refúgio e inspiração por mais de 50 anos.
 
Port Lligat
Cadaqués
Essa região era chamada de “St-Tropez espanhola”, na década de 60, local que atraia muitos jovens não só pelo agradável balneário, mas também para conhecer a casa de refúgio de Dalí e  sua companheira de vida toda, Gala. É emocionante caminhar pelas ruelas e pelas pequenas praias desta bahia, imaginando o que o mestre do surrealismo pensava ao observar este local que parece fazer parte de um refúgio dentro de nossa mente.
Em várias obras é possível observar quanto este local foi inspirador tanto na forma quanto no sentimento. Suas praias que parecem que fazem parte do paraíso, suas casas brancas que parecem que fazem parte da natureza, suas rochas que inspiraram tanto Dalí em seu onipresente  "Grande Masturbador" quanto Gaudí e sua arquitetura orgânica. As encostas repletas de oliveiras banhadas pelo sol do Mediterrâneo.
A Casa-Museu Salvador Dalí , local onde Dalí viveu pelo menos seis meses por ano de 1930 até sua morte em 1989, hoje é aberta a visitação com hora marcada.
Casa-Museu Salvador Dalí 
Fechando a trilogia Dali, na cidade de Públol também fica a Casa-Museu Castell Gala Dalí. Este local é um castelo comprado pelo artista e que também deve ser visitado com agendamento.
A Catalunha tem muitos atrativos e pontos de interesse, para todos os gostos, e é um local, com certeza, que merece ser explorado. As  praias da Costa Brava, os parques e campos com vista dos picos cobertos de neve dos Pirineus  e cidades medievais como Montblanc, são apenas alguns dos destinos que já temos anotado para uma próxima viagem a essa bela e rica região que levaremos para sempre dentro dos nossos corações.